Dialogismo, intertexto - interfaces
Tereza Ramos de Carvalho*
De acordo com o
dialogismo bakhtiniano[1]
“um texto só ganha vida em contato com outro texto, com o contexto. Somente
nesse contato entre textos é que uma luz brilha, iluminando tanto o posterior
como o anterior, juntando dado texto a um diálogo”. Nesse dialogismo é possível
perceber como cada texto é concebido: como um intertexto numa sucessão de
textos já escritos ou que ainda serão escritos. Para Bakhtin[2],
o acontecimento na vida do texto sempre sucede nas fronteiras entre a
consciência do autor e a do leitor. Porque esse ato de criação só pode ser compreendido
no contexto dialógico de seu tempo.
Daí a
necessidade de conhecer a relação do conteúdo da obra com o mundo e a
intervenção, (forma), do autor no ato da criação literária. Ou seja, para que
se reconheça essas interfaces entre autor, obra, leitor e contexto é necessário
que haja a contextualização tanto do autor para a criação literária, quanto do
leitor para compreensão e análise do texto.
Ao estudar e
reconhecer o diálogo existente entre diferentes autores e obras, Bakhtin coloca
em pauta as discussões sobre interdependência textual, que passa a ser objeto
de estudo mais bem observado. Antes de Bakhtin[3],
questionava-se a eficácia das pesquisas científicas no domínio das ciências da
linguagem, porque se estudava a língua a partir de suas unidades mínimas e
fragmentadas em sons, palavras e orações, o que não era suficiente para
compreender a linguagem como fenômeno social. A partir dos estudos bakhtinianos
a compreensão desse fenômeno linguístico toma novo rumo, pois ele se despe das
técnicas até então tidas como modelo e busca compreender a linguagem como um
diálogo que ocorre no meio de enunciados ou enunciados reais da comunicação,
que congrega em si a bagagem sociocultural de um povo. Para Bakhtin[4]
todo texto se reporta a outros textos, todo discurso remete a outros discursos.
A partir das
teorias bakhtinianas, a crítica francesa Julia Kristeva[5]
desenvolve e introduz o conceito de intertextualidade
na década de 1960. Para Kristeva cada texto constitui um intertexto numa
sucessão de textos já escritos ou que ainda serão escritos. E qualquer texto se
constrói como um mosaico de citações e é absorção e transformação de outro
texto. Assim reforçamos a ideia de que um texto sempre pode ser intertexto de
outro, quer pela alusão ou pela rejeição. É essa alusão intertextual que torna possível o diálogo entre
duas ou mais vozes e, ainda, entre dois ou mais discursos, tanto escritos
quanto falados, que embora sendo pessoal, congrega em si várias opiniões
pertencentes ao social.
*Professora Drª em Literatura
[1]
In: Marxismo e filosofia da linguagem:
problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. São
Paulo: HUCITEC, 1986, pag. 162.
[3]In:
Koch, Ingedore G. Villaça. Intertextualidade:
diálogos possíveis. 2ª. Ed. São Paulo:
Cortez, 2008.
[4]
O problema do texto, In: Estética da
criação verbal. Trad. Maria Ermantina G. Pereira. São Paulo: Martins
fontes, 1992.
[5]Introdução
à semanálise. São Paulo: Perspectiva: 1974, Citada por Koch, Ingedore G.
Villaça. Intertextualidade: diálogos
possíveis. pag. 14.
Nenhum comentário:
Postar um comentário